“A Quaresma é um dos momentos do ano em que
os cristãos sentem mais o abismo que os separa do mundo. No Natal, nos santos
populares, em tantas outras festas, a sociedade participa, de certa maneira, na
cerimónia que os cristãos celebram. Participa de longe, participa na
exteriorização, na alegria, mas participa. Até na Páscoa da Ressurreição, os
folares, os ovos de chocolate e as amêndoas nos unem em gozo ao mundo.
Mas na Quaresma não. Quarenta dias de oração,
jejum e esmola é algo que nos distingue de toda a gente. Nem sequer os que
meditam na vida, os que jejuam na dieta para a praia ou os que são solidários
com os pobres, nem sequer esses compreendem algo como a Quaresma. A Quaresma
parece ser de outro universo. Parece que os cristãos perdem de vista a
sociedade no fim do Carnaval e só a reencontram com o coelho dos ovos doces. É
difícil fazer o mundo compreender a Quaresma. É difícil fazer o mundo
compreender que a penitência da Quaresma é para fazer bem a nós mesmos.
João César das Neves
Professor UCP (2003-02-25)
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